Desenvolvimento psicossocial na adolescência

O desenvolvimento psicossocial na adolescência é um processo longo e cumulativo influenciado pelas experiências prévias do indivíduo, pelas mudanças físicas e cognitivas do período e pelos contextos sociais e interpessoais em que o jovem vive.

É caracterizado por duas tarefas de desenvolvimento inter-relacionadas e que acontecem simultaneamente. Uma delas é o desenvolvimento de senso de independência, ou seja, desenvolvimento de competência e autonomia em relação à influência de outras pessoas.

A outra é o desenvolvimento do senso de interdependência: desenvolvimento de conexões e compromissos com indivíduos e instituições sociais – além da família – de maneira cada vez mais madura.

Início e fim

A adolescência, portanto, é o período de desenvolvimento humano durante o qual a criança dependente evolui para a vida adulta independente. Começa por volta dos 10 anos e termina próximo dos 20 anos de idade. É um momento da vida no qual a pessoa passa por intensas transformações físicas, cognitivas, emocionais e comportamentais.

Para a Organização Mundial da Saúde (OMS), a adolescência é dividida em três fases: pré-adolescência (dos 10 aos 14 anos), adolescência (dos 15 aos 19 anos) e juventude (dos 15 aos 24 anos).

No Brasil, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) considera a adolescência a faixa etária dos 12 até os 18 anos de idade completos, sendo referência, desde 1990, para a criação de leis e programas que asseguram os direitos desta população.

À medida que os adolescentes se desenvolvem, eles gradualmente passam mais tempo se comportando como adultos e menos tempo se comportando como crianças. Mas a transição da infância para a idade adulta pode não ocorrer de maneira uniforme e contínua.

Períodos de crescimento podem ser intercalados com fases de regressão. Mesmo com essas diferenças, o ponto em comum e que distingue a adolescência, é a transformação. Assumir mudanças na imagem corporal, adotar valores e estilo de vida, conseguir independência dos pais e estabelecer uma identidade própria são as principais tarefas da fase.

Autoconsciência

No início da adolescência, o indivíduo começa a desenvolver a capacidade de pensamento lógico e abstrato. Essa crescente sofisticação leva a um aumento da consciência de si próprio e da capacidade de refletir sobre si mesmo.

Devido às várias evidentes alterações físicas da adolescência, essa autoconsciência, com frequência, se transforma em constrangimento com um sentimento de embaraço. O adolescente também se preocupa com seu aspecto físico e sua atratividade e tem elevada sensibilidade a diferenças em relação aos outros adolescentes.

No meio da adolescência, o fardo de tomar decisões sobre a futura carreira se torna cada vez mais pesado, e a maioria dos adolescentes não tem uma meta claramente definida, ainda que gradualmente perceba suas áreas de interesse e seus talentos.

Os adolescentes também aplicam suas novas capacidades de reflexão ao questionamento de problemas morais. Os pré-adolescentes interpretam o correto e o incorreto como categorias fixas e absolutas.

Adolescentes mais velhos, com frequência, questionam padrões de comportamento e podem rejeitar tradições. Essa reflexão idealmente culmina no desenvolvimento e na internalização do código moral do próprio adolescente.

Comportamentos de risco

Muitos adolescentes começam a participar de comportamentos arriscados, como dirigir em alta velocidade. Também começam a experimentar sexualmente, e alguns podem tentar práticas sexuais arriscadas.

Alguns adolescentes podem praticar atividades ilegais, tais como furto e uso de álcool e drogas. Especialistas especulam que esses comportamentos ocorrem, em parte, porque os jovens tendem a superestimar suas próprias capacidades enquanto se preparam para sair de casa.

Estudos recentes do sistema nervoso também mostram que as partes do cérebro que suprimem impulsos não amadurecem completamente até o início da idade adulta.

Emoções

Durante a adolescência, as regiões do cérebro que controlam as emoções se desenvolvem e amadurecem. Essa fase é caracterizada por surtos aparentemente espontâneos, mas os adolescentes gradualmente aprendem a suprimir pensamentos e ações impróprios e substituí-los por comportamentos orientados a metas.

Uma área de conflito típica é o desejo normal do adolescente de buscar mais liberdade, que entra em conflito com os instintos dos pais ou outros responsáveis de proteger seus filhos de perigos.

A frustração causada por tentar crescer em muitas direções é comum. A comunicação pode ser desafiadora à medida que os pais e os adolescentes renegociam seu relacionamento.

Grupos

A família é o centro da vida social das crianças. Já durante a adolescência, o grupo de amigos começa a substituir a família como o principal foco social.

Tais grupos geralmente são estabelecidos devido a distinções em termos de vestuário, aparência, atitudes, passatempos, interesses e outras características que podem parecer profundas ou triviais para quem está de fora.

No início, os grupos de adolescentes são, em geral, do mesmo sexo, mas, normalmente, se tornam mistos mais tarde na adolescência. E adquirem importância porque validam as escolhas dos adolescentes e os apoiam em situações de estresse.

Sexualidade

O início da maturação sexual – puberdade – é normalmente acompanhado por um interesse na anatomia sexual, o que pode ser fonte de ansiedade. À medida que os adolescentes amadurecem emocional e sexualmente, eles podem começar a participar de comportamentos sexuais.

A masturbação é comum entre as meninas e praticamente universal entre os meninos. A experimentação sexual com um parceiro frequentemente começa como toques e carícias e pode progredir para sexo oral, vaginal ou anal.

Mais tarde na adolescência, a sexualidade passa de exploratória para uma expressão de intimidade e de partilha.

À medida que os adolescentes navegam por sua sexualidade, eles também podem começar a questionar sua identidade sexual e identidade de gênero.

Transtornos mentais

A incidência de transtornos mentais aumenta durante a adolescência, o que pode resultar em ideação e comportamento suicida.

Transtornos alimentares, como anorexia nervosa e bulimia nervosa, são relativamente comuns entre meninas, e pode ser difícil detectá-los, porque os adolescentes fazem o possível para ocultar os comportamentos e as alterações do peso.

O uso de substâncias como álcool e outras drogas, em geral, começa durante a adolescência. Bebedeiras são algo comum nessa época e podem originar problemas de saúde tanto agudos quanto crônicos.

Pesquisas apontam que jovens que começam a consumir álcool muito cedo têm maior propensão para desenvolver transtornos relacionados ao uso de álcool quando adultos.

Apoio responsivo

Em resumo, a adolescência é um período de desenvolvimento humano caracterizado por mudanças psicossociais intensas.

Nesse contexto, os principais ingredientes para o desenvolvimento psicossocial bem-sucedido englobam um ambiente familiar em que os cuidadores sejam responsivos e apoiem a necessidade de individuação do adolescente.

Incluem, também, o envolvimento em uma rede social de pares de sexo oposto e do mesmo sexo que estejam em uma trajetória de desenvolvimento psicossocial saudável e oportunidades para experimentar e explorar novas responsabilidades e relacionamentos.

Ferramenta

‘A arte de ouvir o adolescente – cards para se conectar com o adolescente com base na psicologia positiva’, de autoria da psicóloga Lêda Zoéga Parolo e publicados pela editora RIC Jogos, foram desenvolvidos como uma ferramenta terapêutica para o atendimento especializado a essa faixa etária.

Têm como objetivo facilitar a conexão com o adolescente, auxiliando na comunicação com uma linguagem acessível e de forma que o jovem seja convidado a dar sua versão sobre diferentes tópicos sem ser julgado ou cobrado.

Os 100 cards visam promover assuntos que fazem parte do dia a dia desses pacientes e podem ser usados na psicoterapia e em outras situações da vida diária, como em uma conversa em família.

Trazem questões que valorizam essa fase da vida, com pontos de reflexão que abordam a própria adolescência, relacionamento com pais, comparação com os outros, o grupo, bullying, medos, sexualidade, drogas, felicidade, etc.

Muitas cartas têm como base a psicologia positiva, que teve sua origem em 1998 com o psicólogo norte-americano Martin Seligman e que tem como ideia principal a busca do melhor do indivíduo.

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