O que é uma crise psicológica e como a DBT trabalha com esses pacientes?

Uma crise psicológica pode ser definida como um momento de sofrimento muito intenso em que há uma desestruturação da vida psíquica e social do indivíduo. Em geral, é caracterizada por distúrbios cognitivos, emocionais, comportamentais e fisiológicos.

Em outras palavras, uma crise psicológica é altamente estressante, tira a pessoa do seu eixo e faz parecer que perderá o controle. Situações como perder o ônibus quando atrasada, ouvir uma notícia ruim inesperada ou ter uma reprovação acadêmica podem parecer insignificantes aos olhos dos outros, mas a deixam com algum nível de desequilíbrio emocional.

DURAÇÃO LIMITADA

A crise psicológica tem curto prazo, ou seja, duração limitada e passa depois de um tempo. Pode levar de minutos a horas, dependendo do quão estressante foi a situação e do quão emocionalmente sensível o sujeito é.

Também deixa a pessoa mais vulnerável a sentir o desconforto de emoções intensas, como raiva, tristeza, ciúme, medo ou culpa. E mais suscetível a agir por impulso ou seguir o comando da emoção para se livrar do mal-estar emocional, como brigar ou comer em excesso.

DESREGULAÇÃO EMOCIONAL

Durante uma crise psicológica, o indivíduo passa por um episódio de desregulação emocional que tem algumas características as quais tornam a experiência extremamente desconfortável.

Uma delas é a maior suscetibilidade a possíveis gatilhos, ou seja, coisas que acontecem que provocam desconforto emocional.

Fica mais difícil frear os impulsos ocasionados pela intensidade emocional elevada, bem como há dificuldade de reduzir a ativação fisiológica, como desacelerar os batimentos cardíacos, reduzir o ritmo da respiração, diminuir a tensão muscular e parar de chorar.

Em uma crise psicológica, o foco da atenção fica limitado e direcionado ao sofrimento e/ou à situação que a gerou. Isso faz com que, muitas vezes, o sujeito tenha comportamentos ou atitudes que contrariam seus valores de vida e prioridades pessoais, como gritar com alguém querido mesmo prezando pela gentileza nas relações, o que pode resultar em culpa e mais sofrimento.

VULNERABILIDADE

Passar por uma crise psicológica é normal e costuma ocorrer com todas as pessoas. Algumas, no entanto, por conta da sua vulnerabilidade genética, podem experimentá-la com mais frequência e intensidade devido à alta sensibilidade a situações que podem dispará-la, reagindo fortemente a determinados gatilhos e demorando para voltar ao estado de normalidade.

Essa experiência é frequente entre indivíduos que têm distúrbios mentais como o transtorno da personalidade borderline (TPB) e o transtorno de déficit de atenção/hiperatividade (TDAH), por exemplo, que são caracterizados por uma desregulação emocional generalizada ou pervasiva.

TRATAMENTO

A terapia comportamental dialética (DBT) foi desenvolvida originalmente para o tratamento de pacientes com intensa desregulação emocional que apresentam comportamentos suicidas e condutas autolesivas sem intencionalidade suicida crônicas.

Desde seus primeiros estudos e ainda hoje, se mostra como a abordagem terapêutica mais efetiva para o tratamento de pacientes com TPB.

Contudo, atualmente, sua efetividade é comprovada no tratamento de uma série de outros transtornos, como: alimentares, relacionados ao uso de substâncias, depressivo maior, humor bipolar, estresse pós-traumático, desafiador de oposição e TDAH.

A DBT engloba tratamento individual, treinamento de habilidades (individual ou em grupo), coaching entre sessões e consultoria de equipe, voltada aos terapeutas.

A terapia individual tende a ser diretiva e baseada no aqui e agora, buscando abordar os problemas adaptativos do paciente. A atenção prioritária é dada a comportamentos suicidas e autodestrutivos e, depois, a comportamentos que interferem na própria terapia. Na sequência, vêm assuntos ligados à qualidade de vida do paciente e à sua melhora.

Na fase final da DBT, é dada atenção à intervenção no trauma psicológico e à promoção do autorrespeito. Para alguns pacientes, é necessário encontrar um sentido mais profundo para a sua existência. Nesses casos, a terapia contempla a abordagem de assuntos como viver uma vida com sentido e aspectos espirituais, particularmente o sentimento de pertencimento ao universo.

MÓDULOS

No treinamento de habilidades, organizado em módulos, o paciente é ensinado e pratica uma série de competências para enfrentar situações nas quais tem dificuldade no seu cotidiano.

Para a baixa autoeficácia, existe o módulo de mindfulness – práticas de atenção plena –, que instrui nas habilidades de observar, descrever e participar sem julgamento, buscando efetividade, utilizando um conceito da DBT chamado mente sábia.

Para a vulnerabilidade emocional, o módulo de regulação emocional auxilia a reconhecer, nomear e compreender as emoções, bem como a modificar respostas emocionais e o manejo de emoções extremas.

Já para os comportamentos impulsivos, o módulo de tolerância ao mal-estar da DBT ensina habilidades de tolerância e sobrevivência a crises.

Por fim, para os problemas nos relacionamentos, o módulo de efetividade interpessoal ensina o paciente como conquistar seus objetivos nas relações, mantendo o autorrespeito, assim como a cultivar relações que sejam saudáveis e cessar as que não são.

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