Terapia cognitivo-comportamental: intervenções para dependência química

A terapia cognitivo-comportamental, aliada a outros métodos terapêuticos como o programa dos doze passos, os grupos de autoajuda e o tratamento farmacológico, é uma abordagem efetiva no tratamento da dependência química. Acompanhada de técnicas para compreender o que contribui para a manutenção do uso da droga e como reduzir o risco de recaída, melhora o quadro geral do paciente.

Para o psiquiatra norte-americano Aaron Beck, o modelo cognitivo da dependência química permite compreender o que contribui para a manutenção do uso de substâncias e recaídas.

Conforme esse modelo, situações atuam como estímulos de alto risco e esses estímulos, internos ou externos, ativam crenças centrais sobre o indivíduo, o mundo e o futuro e as crenças sobre o uso de drogas.

Uma vez ativadas, essas crenças, que geralmente não são conscientes, levam ao surgimento de pensamentos automáticos. Os pensamentos automáticos desencadeiam o surgimento de sinais e sintomas fisiológicos interpretados ou reconhecidos como fissura (craving).

Regido pelo craving e autorizado pelas crenças facilitadoras, o indivíduo planeja e providencia o acesso à droga e inicia seu uso. Ao usar a droga, são desencadeados o desejo de continuar e, ao mesmo tempo, os sentimentos de culpa e fracasso – efeito de violação da abstinência (EVA). O desconforto psicológico então ativa mais crenças disfuncionais e o ciclo se reinicia.

COMPREENSÃO

Sendo assim, a terapia cognitivo-comportamental no tratamento da dependência química ajuda na compreensão de que, a partir do momento que se aprende a avaliar os pensamentos de forma mais realista e adaptativa, há uma melhora no estado emocional e no comportamento. Encarar uma situação a partir de uma nova perspectiva faz com que o paciente se sinta melhor e passe a ter um comportamento mais funcional.

Por isso, aprender como reconhecer e mudar pensamentos automáticos e utilizar métodos comportamentais que ajudam a lidar com os ativadores dos sintomas se tornam habilidades adquiridas imprescindíveis na redução do risco de recaídas.

O desenvolvimento de capacidades para enfrentamento efetivo precisa envolver habilidades sociais básicas, comportamentos assertivos e habilidades de confronto, que incluem a capacidade de identificar situações de risco, lidar com emoções e fazer reestruturações cognitivas.

TÉCNICAS

Entre as técnicas utilizadas pela TCC para o desenvolvimento dessas habilidades, constam a psicoeducação, ou seja, informar e esclarecer dúvidas do paciente acerca de seu problema, sobre seu diagnóstico, a causa e o funcionamento do tratamento mais aconselhado e a predição de sua doença.

Já o questionamento socrático consiste em fazer perguntas ao paciente que estimulem a curiosidade e o desejo de inquirir, fazendo com que ele se envolva no processo de aprendizagem.

Outra técnica da terapia cognitivo-comportamental utilizada no tratamento da dependência química é a identificação de pensamentos automáticos, que pode ser feita através do registro diário de pensamentos disfuncionais.

REESTRUTURAÇÃO COGNITIVA

A partir da identificação dos pensamentos automáticos e das crenças disfuncionais, é aplicada a reestruturação cognitiva. Visa ensinar habilidades para mudar as cognições e fazer com que o paciente faça uma série de exercícios planejados para expandir os aprendizados da terapia em situações cotidianas até que sejam modificadas as cognições desadaptativas arraigadas.

Existem diversas outras técnicas, tais como cartão de enfrentamento e dessensibilização sistemática. A TCC também utiliza no tratamento da dependência química métodos para controle e redução da ansiedade, como relaxamento, respiração e exercícios físicos.

FERRAMENTAS

Atividades terapêuticas lúdicas também podem ser utilizadas como ferramentas no tratamento de casos de pacientes adictos, seja para psicoeducação, seja para o treino de habilidades de tolerância ao mal-estar.

O jogo de tabuleiro ‘Detox game – Caminhando nas trilhas da abstinência’, criado pelos psicólogos Dan Roger Pozza e Renata Brasil Araujo, é um recurso para psicoeducar sobre os principais conceitos trabalhados na dependência química, como fissura, lapso, situações de risco, estratégias de enfrentamento, mudança de hábitos, atitudes e abstinência.

A partir da interação de cada jogador com as situações trabalhadas e com as trocas com os demais participantes, a psicoeducação é complementada ao explorar as reações, os comportamentos-problema, as dificuldades e as fragilidades expostas durante a partida.

Composto por 56 cards com perguntas, o jogo ‘Maconha sem viagem’, de autoria das psicólogas Renata Brasil Araujo e Sabrina Presman e da psiquiatra Alessandra Diehl, tem como objetivo fornecer informações científicas a respeito da maconha para adultos, adolescentes e familiares de usuários dessa substância.

Pode ser jogado individualmente ou em grupo, nas famílias, com ou sem a presença de um terapeuta. Tem uma linguagem simples e informa, de modo descontraído, sobre as características da maconha, seus efeitos, benefícios e prejuízos. Ambas publicações estão disponíveis no site www.ricjogos.com.br.

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