Terapia cognitivo-comportamental para transtornos do exagero

A terapia cognitivo-comportamental se mostra eficaz no tratamento dos transtornos do exagero. Tais distúrbios englobam uma série de patologias que, embora não apareça na mesma categoria nos manuais de diagnóstico, tem o comportamento ‘exagerado’ do indivíduo como ponto em comum. O termo criado pela psicóloga Renata Brasil Araujo aparece em seu livro ‘Guia de terapias cognitivo-comportamentais para os transtornos do exagero’.

Um exemplo bastante conhecido é o alcoolismo, em que a pessoa acometida não consegue controlar a ingestão de álcool. Situação semelhante dos que sofrem com o consumo descontrolado de substâncias químicas. Menos falado dos Transtornos do Exagero nas grandes rodas, mas igualmente perigoso, é o jogo patológico. Nele, é identificada a tentativa constante de ganhar sem que a pessoa leve em consideração o risco de perder.

O mesmo vale para o indivíduo que tem a urgência de comprar compulsivamente sem se importar com o saldo de sua conta bancária ou aquele que não tem controle sobre o alimento que ingere. O uso sem limites da internet e dos aparelhos eletrônicos é outro caso que chega ao patamar da dependência.

COMPENSAÇÃO

Os comportamentos aditivos de quem tem transtornos do exagero são compostos por hábitos hiperaprendidos e mal-adaptativos seguidos por uma gratificação imediata. Ou seja, ações que são repetidas inúmeras vezes ao longo da vida a ponto de serem quase automáticas e que não se adaptam ao bem-estar físico, mental e/ou social, mas levam a uma resposta imediata de compensação. O que reforça a repetição.

Essa gratificação, no entanto, traz consequências negativas, entre elas, perda financeira, desaprovação social, desconforto ou até mesmo doença. Além de envolverem a presença da angústia ou ansiedade na ausência do ato, os comportamentos aditivos podem acarretar um afastamento do indivíduo de familiares, no trabalho, na vida afetiva, por ocuparem um espaço muito grande em sua vida.

Com caráter compulsivo e repetitivo, os transtornos do exagero ainda geram esforços fracassados no sentido de reduzir, controlar ou até mesmo eliminar o comportamento não adaptativo. Podendo, inclusive, desencadear sintomas físicos causados pela abstinência, como tremores, sudorese e taquicardia.

INTERPRETAÇÕES

A boa notícia é a terapia cognitivo-comportamental auxilia os indivíduos com transtornos do exagero a enxergarem melhor a realidade e a buscarem alternativas para modificar seus comportamentos mal-adaptativos. Isso porque ela parte da premissa de que são as interpretações que a pessoa tem dos fatos, e não os fatos em si, que lhe trazem sofrimento.

A TCC para tratamento de transtornos relacionados ao uso de substâncias e outros transtornos do exagero está baseada no modelo cognitivo do psiquiatra norte-americano Aaron Beck. Ele pressupõe a diminuição de reações emocionais excessivas e condutas desadaptativas mediante a modificação de pensamentos errôneos ou distorcidos e de crenças disfuncionais subjacentes a essas reações.

Tal abordagem auxilia os pacientes no controle das crenças que produzem mal-estar emocional e que os levam a usar drogas ou terem outros comportamentos aditivos, aumentando a confiança para conseguirem prazer e alívio sem o uso desses estímulos prejudiciais.

Um dos objetivos é ajudar as pessoas com transtornos do exagero a identificarem e diminuírem a valência de crenças centrais e aditivas que induzem ao craving (fissura, desejo), incrementando seu autocontrole.

Além disso, técnicas específicas da terapia cognitivo-comportamental ajudam os indivíduos a controlarem seus impulsos, assim como a combater a depressão, a ansiedade e a ira, que estão frequentemente relacionadas a comportamentos aditivos.

FERRAMENTAS

Atividades terapêuticas lúdicas também podem ser utilizadas como ferramentas no tratamento de casos de pacientes adictos, seja para psicoeducação, seja para o treino de habilidades de tolerância ao mal-estar.

O jogo de tabuleiro ‘Detox game – Caminhando nas trilhas da abstinência’, criado pelos psicólogos Dan Roger Pozza e Renata Brasil Araujo, é um recurso para psicoeducar sobre os principais conceitos trabalhados na dependência química, como fissura, lapso, situações de risco, estratégias de enfrentamento, mudança de hábitos, atitudes e abstinência.

A partir da interação de cada jogador com as situações trabalhadas e com as trocas com os demais participantes, a psicoeducação é complementada ao explorar as reações, os comportamentos-problema, as dificuldades e as fragilidades expostas durante a partida.

Composto por 56 cards com perguntas, o jogo ‘Maconha sem viagem’, de autoria das psicólogas Renata Brasil Araujo e Sabrina Presman e da psiquiatra Alessandra Diehl, tem como objetivo fornecer informações científicas a respeito da maconha para adultos, adolescentes e familiares de usuários dessa substância.

Pode ser jogado individualmente ou em grupo, nas famílias, com ou sem a presença de um terapeuta. Tem uma linguagem simples e informa, de modo descontraído, sobre as características da maconha, seus efeitos, benefícios e prejuízos. Ambas publicações estão disponíveis no site www.ricjogos.com.br.

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