Terapia comportamental dialética: fundamentos e aplicações

A terapia comportamental dialética, também conhecida como DBT, do inglês dialectical behavior therapy, foi desenvolvida originalmente para o tratamento de pacientes com intensa desregulação emocional que apresentam comportamentos suicidas e condutas autolesivas sem intencionalidade suicida crônicas.

Desde seus primeiros estudos e ainda hoje, se mostra como a abordagem terapêutica mais efetiva para o tratamento de pacientes com transtorno da personalidade borderline (TPB).

Contudo, atualmente, sua efetividade é comprovada no tratamento de uma série de outros transtornos, como: alimentares, relacionados ao uso de substâncias, depressivo maior, humor bipolar, estresse pós-traumático, do déficit de atenção com hiperatividade e desafiador de oposição.

Também é eficaz no atendimento a casais com intensos conflitos emocionais, a casos de violência conjugal (para os parceiros violentos) e a familiares de pacientes com TPB e comportamentos suicidas.

TERCEIRA ONDA

Desenvolvida a partir da década de 1970 pela psicóloga, professora e escritora norte-americana Marsha Linehan, a DBT é uma das principais abordagens da chamada terceira onda das terapias cognitivo-comportamentais, em que as intervenções terapêuticas possuem um caráter mais integrativo, priorizando o relacionamento terapeuta-paciente.

Já está comprovado cientificamente que existem altas taxas de sucesso em processos de psicoterapia em que há a nutrição de uma boa relação com o terapeuta. Isso porque os pacientes tendem a se sentir mais comprometidos quando percebem que existe um vínculo colaborativo emocional.

O objetivo principal da DBT é que o indivíduo aprenda a regular a emotividade extrema e seus impulsos, reduzindo os comportamentos disfuncionais dependentes do estado de humor. Ele também precisa aprender a confiar e a validar suas próprias experiências, emoções, pensamentos e comportamentos.

MÓDULOS DE HABILIDADES

A terapia comportamental dialética foca-se em quatro módulos de habilidades divididas em dois grupos: habilidades de aceitação e de mudança. A meta é munir o paciente de ferramentas necessárias para lidar e modificar sua desregulação emocional.

No grupo de habilidades de aceitação, está incluso o módulo mindfulness (atenção plena). Pessoas com grave desregulação emocional comumente relatam ausência do senso de si mesmas, sensação de vazio e falta de autoconhecimento. Isso ocorre porque elas percebem a realidade através de suas emoções.

Portanto, para tratar a sensação da perda de si, a atenção plena faz com que o indivíduo passe a ver com a capacidade de experimentar conscientemente e observar a si próprio, observar e descrever com exatidão os eventos presentes internos e externos, sem que haja julgamento ou distorção da realidade.

Ainda no grupo das habilidades de aceitação da DBT, está o módulo de tolerância ao mal-estar. Muitas vezes, pacientes com alta desregulação emocional possuem padrões de comportamento impulsivos e prejudiciais. Geralmente fazem uso abusivo álcool e outras drogas, se autoagridem e/ou têm comportamentos suicidas.

Assim, são orientados para o desenvolvimento de comportamentos que viabilizam a tolerância a situações que possam gerar sentimentos como angústia, evitando comportamentos impulsivos. O resultado é uma maior capacidade de tolerar esse mal-estar até que sejam encontradas soluções mais eficazes.

MUDANÇA

Já no grupo de habilidades de mudança da terapia comportamental dialética, consta o módulo de efetividade interpessoal. A vivência em relacionamentos caóticos e intensos e a dificuldade de se desligar e eliminar esse tipo de relacionamento são relatos constantes de pacientes, os quais têm diversos problemas relacionados a emoções como raiva, ciúmes, inveja e vergonha.

Por isso, tais habilidades têm o objetivo de aumentar as chances de que os desejos do indivíduo em uma situação específica sejam alcançados. Ao mesmo tempo, visam evitar prejuízos aos seus relacionamentos interpessoais ou ao autorrespeito.

Outro módulo que integra esse grupo é o da regulação emocional. Problemas em identificar suas emoções são comuns para algumas pessoas. Elas podem apresentar maior dificuldade para descrever e nomear aquilo que sentem, bem como para evitar ou saber a maneira de agir quando determinadas emoções surgem.

Dessa forma, o paciente é orientado a fazer essa identificação. Ele também é munido de habilidades que podem modificar suas respostas emocionais atuais, assim como reduzir sua vulnerabilidade à mente emocional.

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