Terapia do esquema no tratamento de crianças e adolescentes

A terapia do esquema (TE) no tratamento de crianças e adolescentes vem sendo cada vez mais indicada e valorizada especialmente no âmbito dos diagnósticos precoces, visando resultados mais eficazes, e da prevenção de transtornos mentais na vida adulta.

Integrativa, sistemática e estruturada, a TE começou como uma extensão da terapia cognitivo-comportamental (TCC) a partir da preocupação do psicoterapeuta norte-americano Jeffrey Young com pacientes que apresentavam problemas interpessoais de longa duração relacionados a transtornos de personalidade.

Com o tempo, no entanto, adquiriu uma identidade própria e, dentro das terapias de terceira onda da TCC, tem demonstrado efetividade em transtornos resistentes a outras abordagens da psicologia, como os de humor e ansiedade.

Também foi estendida a outras modalidades terapêuticas além da individual, como em grupos, de casal e infantojuvenil.

Crenças desadaptativas

Os objetos de estudo e intervenção da terapia do esquema são as crenças desadaptativas que surgem na infância, chamadas de esquemas iniciais desadaptativos (EIDs).

Os EIDs são fruto da interação entre o temperamento pessoal com um ambiente que não atende às necessidades emocionais básicas da pessoa, como afeto e segurança, e marcam emoções e comportamentos disfuncionais ou autodestrutivos.

São padrões de sentimentos, percepções e ações em relação a situações da vida encontrados em um nível mais profundo da cognição, ligados a questões instintivas e inconscientes. Eles medeiam o aparecimento e a manutenção de padrões problemáticos complexos e duradouros.

Podem ser identificados quando alguém reage impulsivamente à determinada vivência sem ter controle sobre o que faz ou sem compreender o próprio comportamento. Isso acontece porque situações do presente guardam ligações inconscientes com o passado.

Os estudiosos da terapia do esquema observaram quatro tipos de experiências no início da vida que estimulam a aquisição de esquemas: a frustração nociva de necessidades, a traumatização ou vitimação, a demasia de boas experiências e a internalização ou identificação seletiva com pessoas importantes.

Processo terapêutico

Por meio de técnicas emocionais, cognitivas e comportamentais, TE no tratamento de crianças e adolescentes busca atuar sobre as raízes dos EIDs. Os terapeutas não precisam, necessariamente, discutir os esquemas com esse público, pois são abstratos e pouco claros especialmente para os pequenos.

No entanto, a fim de conduzir o processo terapêutico, o profissional deve ter em mente que os esquemas produzem modos. Esses modos procuram lidar com frustrações de necessidades fundamentais.

Modo esquemático é um conjunto de esquemas e suas operações de enfrentamento que estão ativas em um dado momento. Também compõem os modos fragmentos dissociados de memórias da infância. Eles são considerados estados mentais ou diferentes partes da mesma pessoa.

Os esquemas podem ser vistos como traços permanentes. Já os modos podem ser vistos como estados mais ou menos temporários e que se sucedem. A variação entre modos explica as mudanças abruptas e contrastantes que podem ocorrer em pacientes com a personalidade não bem-integrada.

Uma formulação clínica que contemple os modos capacita o terapeuta a trabalhar efetivamente essas intensas variações emocionais.

Objetivos

Independentemente de o foco estar nos esquemas ou nos modos, os objetivos da terapia do esquema no tratamento de crianças e adolescentes permanecem os mesmos, ou seja, propiciar o autoconhecimento e diminuir as interferências causadas por reações emocionais desadaptativas, respostas cognitivas derrotistas e padrões comportamentais inflexíveis.

Também é objetivo da TE estabelecer e reforçar modos de enfrentamento mais adaptativos. Dessa forma, o indivíduo consegue romper os mecanismos de manutenção dos EIDs e adquirir condições de suprir necessidades básicas, atingir objetivos maiores e ter uma vida liberta do passado.

Indicação

A terapia do esquema não é indicada somente para crianças e adolescentes com problemas psiquiátricos ou distúrbios de comportamento. Cada vez mais, esse apoio psicológico é procurado também para lidar com conflitos corriqueiros, mas que, se forem ignorados, podem gerar prejuízos em sua qualidade de vida e autoestima.

Entre os padrões específicos de comportamento e condições psiquiátricas na infância e adolescência que se beneficiam dessa abordagem psicoterapêutica, constam birra ou intransigência, fobia social, ansiedade e depressão.

Recursos lúdicos

Os recursos lúdicos são muito importantes na terapia do esquema com crianças e adolescentes.

O ‘Baralho infantil de esquemas: investigando pensamentos’, de autoria das psicólogas Érica de Lana e Priscila Anush Balekjian, foi desenvolvido para atender à perspectiva desenvolvimental dos esquemas cognitivos, tendo como objetivo ser um instrumento de apoio clínico de rastreio e não uma ferramenta diagnóstica em si.

Direcionado a profissionais da saúde mental para utilização com pacientes na faixa etária de 6 a 15 anos, possibilita uma avaliação lúdica adaptada às necessidades da população infantojuvenil e teoricamente fundamentada.

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